Renata Ceribelli vê de perto a guerra entre ônibus, carros e bicicletas em SP

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Juliana Dias, 33 anos; Homero Garcia de Almeida, 70 anos; Ariceu Souza da Silva, 37 anos; José Adílson dos Santos, 39 anos; Hélio Nunes da Costa, 43 anos; Luzimar Ferreira da Silva, 47 anos; Juliano dos Santos Pires, 21 anos; e Matheus Duarte Mueller, 9 anos. Esses são alguns dos ciclistas que morreram atropelados só nas duas últimas semanas. Quase 1,5 mil ciclistas morreram em acidentes em 2010. São vítimas de uma guerra travada nas ruas e avenidas de todo o Brasil.

Na última terça-feira (6), moradores de 35 cidades do país prestaram homenagem aos ciclistas mortos e protestaram, pedindo mais respeito nas ruas. No sábado (10), em São Paulo, ciclistas tiraram a roupa para chamar a atenção das autoridades para esse problema.

O que gerou a onda de protestos foi a morte da bióloga Juliana Dias, nove dias atrás. Imagens, obtidas com exclusividade pelo Fantástico, mostram o momento do acidente. Segundo testemunhas, ela foi fechada por um ônibus, perdeu o equilíbrio e quando caiu foi atropelada por outro.

O motorista desce, leva às mãos à cabeça e se desespera ao ver o corpo de Juliana. Para a polícia, a imprudência foi do condutor do ônibus que fechou a ciclista. Ele foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar. Pagou fiança de R$ 1,5 mil e foi liberado. O motorista do outro ônibus não foi responsabilizado pelo acidente.

Apesar de haver mais bicicletas do que carros no país, elas são meio de transporte de apenas 7% dos brasileiros. Afinal, será que carros, ônibus e bicicletas são capazes de dividir o mesmo espaço?

“Na Paulista não dá. Tem que cada um ter seu espaço”, opina o taxista Francisco Antonio de Souza. “Tem muitos colegas da gente que não respeitam nem a gente, você imagina com ciclista”, diz o motorista de ônibus Aparecido Donizete. “No meio da rua, sem capacete, entre os carros: é uma postura correta do ciclista? Não é”, reconhece o arquiteto Bruno Souza Dias.

Uma coisa é certa: está mais do que na hora de ciclistas e motoristas aprenderem a conviver no trânsito. O paulista Ian Thomaz Puech pertence a um grupo, o Bike Anjo, que tem justamente essa proposta: ensinar os ciclistas a pedalarem no trânsito e nas ruas. O primeiro passo é dar uma geral na bicicleta. “Bicicleta em ordem na rua ajuda com certeza a pedalar mais seguro e pedalar mais confortável”, garante Ian.

“Uma roupa que chama atenção ajuda a dar visibilidade na rua. O ciclista tem que ser visto”, alerta.

Para quem não tem experiência nas ruas de São Paulo, o trânsito assusta. “Fique distante da calçada. É bem no meio da faixa mesmo”, ensina o ciclista.

Tem gente que acha que lugar de bicicleta não é na rua, mas o Código Brasileiro de Trânsito diz que é sim. Sempre que estiver em movimento, a bicicleta é considerada um veículo e, como tal, deve seguir as regras de trânsito.

E se o trânsito para? “A gente espera um pouquinho, desmonta da bicicleta”, recomenda o bike anjo.

Assim como em um carro, tudo que o ciclista fizer tem que sinalizar. “Se eu for entrar para a direita, o que eu tenho que fazer? Para a direita. Você pode fazer pra baixo, avisando para o cara reduzir a velocidade”, aponta Ian.

Andar na contramão nem pensar! “O trânsito parou, a gente estava em uma ladeira, não fiquei segura de subir na bicicleta no meio da ladeira, cheio de carro atrás, não tive dúvidas. Estou empurrando a bicicleta. É isso mesmo?”, pergunta a apresentadora Renata Ceribelli.

“Se você acha que tem alguma coisa que você se sentiu desconfortável ou até mesmo a marcha ficou pesada, você não consegue ainda sair com aquela marcha pesada, desce da bicicleta, desmonta, vai para a calçada e empurra um pouquinho. Mas empurra, não vale pedalar na calçada”, afirma Ian Thomaz Puech.

Apesar de ser um item de segurança importante, o capacete não é obrigatório. Mas as bicicletas devem ter buzina. O vendedor Antonio Pedro da Silva, que circula o dia inteiro em São Paulo, sabe disso. “Se você estiver sem buzina, você pode dar uns gritos”, diz Ian.

E olha mais uma boa ideia do Seu Antonio: ele pedala o tempo todo na rua ouvindo uma música alta. “O que a gente não recomenda é que a pessoa pedale com o fone de ouvido, porque o fone de ouvido, com certeza, vai tirar um pouco a sua atenção dos carros que estão em volta”, orienta Ian.

Pedalando por São Paulo, Ian conta também que a bicicleta deve ficar na pista da direita, mesmo em ruas com corredores de ônibus. Os carros e ônibus têm que manter um metro e meio de distância ao ultrapassar os ciclistas. Mas essa lei está difícil de cumprir.

“A Avenida Paulista é uma avenida que eu particularmente tenho muito medo e tenho dúvida se é um lugar para a bicicleta dividir espaço com motoristas e ônibus”, pergunta Renata Ceribelli. “Se você não se sente segura de pedalar na avenida, minha recomendação é que você procure ir por vias paralelas”, sugere o bike anjo.

Ian diz que essas dicas garantem a segurança, mas até que ponto elas são cumpridas no dia a dia? Rubens é motorista de táxi e Letícia é ciclista. Qual é a reclamação que um tem do outro no momento que dividem o mesmo espaço nas ruas? É difícil dividir o espaço com uma ciclista?

“Depende muito. Quando o ciclista está preparado e dá os sinais na hora que deve quando vai mudar de faixa, é tranquilo. Em 50% dos casos, isso acontece”, calcula o taxista. “Até que é alta essa porcentagem. Tem ciclista que costuma respeitar e dar sinais, mas tem ciclistas desinformados que não”, conta Letícia Belmonte.

Pelo corredor, um ciclista foi para o meio da pista e atravessou o sinal vermelho. “O problema no geral é que os motoristas têm a impressão, é nossa cultura automobilística, de que o asfalto é feito para os carros e que a gente está atrapalhando”, acrescenta Letícia.

Se tem uma coisa em que ciclistas e taxistas concordam é sobre o que falta no trânsito. “Educação. Um pouco mais de educação”, diz o taxista. “O que falta é informação e educação”, completa a ciclista.

Em 2004, o governo federal criou o programa “Bicicleta Brasil” para estimular o uso das bicicletas como meio de transporte. Fomos saber quais os resultados que eles têm do programa até agora.

“A gente tem uma dificuldade hoje em relação ao retrato da realidade. Não existe uma instituição que pesquise de cabo a rabo como é a mobilidade por bicicleta no país. Ainda é uma coisa um pouco insegura”, afirma Cláudio Silva, secretário nacional de transporte e da mobilidade urbana, do Ministério das Cidades.

Enquanto isso, ciclistas continuam morrendo vítimas dessa guerra no trânsito.

Ela falava que era uma loucura, mas aquilo tinha que mudar porque tinha muito carro em São Paulo. Eu não tenho revolta de nada, e tenho saudade e falta, lamenta Valéria Dias, mãe da ciclista morta na Avenida Paulista.

Fonte: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1679020-15605,00-SAIBA+COMO+USAR+BICICLETA+NO+TRANSITO+COM+SEGURANCA.html

 

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