Desrespeito e muitos problemas marcam o 1º dia de ciclofaixa permanente em SP

Carros estacionados e até caçamba impediram passagem nesta manhã
CET disse que irá estudar funcionamento de via para bicicletas em Moema

Ciclistas que tentaram utilizar a nova ciclofaixa permanente implantada em ruas de Moema, na Zona Sul de São Paulo, enfrentaram problemas na manhã deste sábado (5), quando a rota começou a funcionar. Carros que não sabiam do que se tratava a faixa vermelha pintada no chão estacionaram sobre a via de bicicletas, impedindo a passagem dos ciclistas.
Muitos motoristas realmente não sabiam da inauguração da ciclofaixa. A sinalização em alguns pontos também não auxiliava na orientação. “Eu estou seguindo o horário da placa. Então eles têm que trocar a placa. Eles estão atrasados, não eu”, disse o motorista de caminhão Flávio Adauto.
Mas logo no primeiro dia, algumas cenas de desrespeito chamaram a atenção dos ciclistas. Em uma delas, um motorista cobriu a placa de seu carro e o manteve parado sobre a faixa para bicicletas. Os ciclistas foram obrigados a subir na calçada ou ir para o meio da rua para desviar do veículo. Em outro ponto, pode-se ver três carros estacionados em seqüência.
Foto: Leo Martins/Futura Press
Com a placa coberta, carro é estacionado na faixa esclusiva de bicicletas aberta neste sábado em Moema

Segundo a Compahia de Engenharia de Tráfego (CET), estacionar (ou fazer carga e descarga) sobre a ciclovia é um infração grave, sujeito a remoção (guincho), multa de R$ 127,69 e 5 (cinco) pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH).

O espaço funciona de maneira diferente do que acontece já na Ciclofaixa de Lazer - circuito de 45 km que liga diversos parques das zonas sul e oeste da capital e que só funciona aos domingos. A ciclofaixa de Moema será orientada para o transporte, e funcionará 24h, durante toda a semana.
Foto: AE
Carros estacionados em ciclofaixa permanente que foi inaugurada nesse sábado
No local, não há cones para separar carros e bicicletas - isso é feito apenas pela pintura de solo e sonorizadores instalados nos bordos. As bicicletas devem obedecer o mesmo sentido dos veículos.
Quando o plano foi divulgado pela primeira vez, há cerca de um ano, alguns moradores e comerciantes se revoltaram contra o projeto. les pediam de volta cerca de 2,5 mil vagas de estacionamento que foram retiradas do bairro, alegando que o comércio da região estava sendo afetado.
Outro problema ocorrido foi na área reservada para o estacionamento de veículos. As vagas de estacionamento passaram a ficar ao lado da ciclofaixa – que fica ao lado da calçada. Em alguns pontos, a impressão é de que os veículos estacionados regularmente estão parados no meio da rua.
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A novidade também gerou polêmica entre os moradores do bairro. “O fluxo de bicicletas aqui é de entrega de água, de pão. Não se vê ciclista, e leva nada a lugar nenhum”, disse o morador Ricardo Barreira. A opinião dos ciclistas, entretanto, é diferente. “As pessoas têm que conhecer as regras para poder seguir. Eu acho que daqui uns dias isso aqui vai estar cheio de gente emagrecendo”, afirmou o engenheiro José Dário.
A via exclusiva para as bicicletas tem 3,3 km e segue ao longo das avenidas Iraí, Pavão, Rouxinol e Aratãs, além da Rua Araguari. Em muitos trechos, a inclinação da via faz com que se acumule sobre a faixa especial água e areia. Em outros pontos o asfalto está rachado, dificultando a passagem dos ciclistas. Até uma caçamba de entulho foi encontrada no caminho.

Outros problemas
O consultor de trânsito e transportes do SPTV, Sérgio Ejzenberg, circulou pelas vias onde a ciclofaixa permanente foi implantada e também apontou problemas. “Não dá para acreditar que é no meio da rua que a pessoa vai estacionar. Mas é o que está sinalizado. Ao você colocar os carros nos cruzamentos afastados da guia, no meio da rua, vai prejudicar as conversões de veículos pesados, a fluidez do trânsito, e vai deixar os próprios pedestres um pouco perdidos”, disse ele sobre as vagas de Zona Azul.
A saída dos motoristas dos carros também pode gerar problemas – ao abrir a porta, eles podem atingir um ciclista que passa pela ciclofaixa. “Para o motorista, vai ser muito difícil saber o que está acontecendo. Tanto que tem um monte de placas aí dizendo ‘cuidado ao abrir a porta’. Isso não traz segurança, isso traz confusão”, afirmou.
Também começou a funcionar em Moema neste sábado a rota de bicicletas. Ela tem 6,5 km e em alguns pontos cruza com a ciclofaixa. A indicação para os motoristas e ciclistas é apenas uma bicicleta pintada no asfalto. Ejzenberg também aponta falhas na sinalização dos cruzamentos dessas vias.
“Mostra a ciclofaixa, mas não mostra o sentido dela. Você estimular o uso da bicicleta é correta, você criar espaços para ela, sempre que possível, melhor ainda. Agora com segurança, com atenção, com cuidado, ouvindo os moradores, ouvindo todos os interessados”, afirmou.

CET
Segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), o modelo da ciclofaixa foi estudado e baseado nos existentes em cidades de outros países, como Londres, na Inglaterra, e Paris, na França. A companhia também afirmou que a ciclofaixa ainda está em fase de testes.
A caçamba que foi encontrada na via foi retirada na manhã deste sábado – entretanto, o local onde ela estava não foi pintado. A CET afirmou que a área será pintada e reparada.
“Nós vamos fazer uma análise geral de tudo o que está acontecendo, as dificuldades, os riscos, vamos fazer entrevistas com pessoas, e daí vamos ou manter ou retirar. Vamos avaliar tudo isso ao longo do tempo”, disse Daphne Savoy, gerente de planejamento da CET.

Fontes:
1)    G1 São Paulo - http://glo.bo/tYhM6y

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