Cego, ciclista vai além dos limites e compete em ultramaratona de MTB
Sem enxergar desde 2007, o atleta brasiliense participa da Brasil Ride,
que acontece na Chapada Diamantina
Eudes Benício*
Parceiro beija Adalto ao completar etapa da Brasil
Ride
Com certeza para Adalto Belli, 40 anos, a
palavra limitação tem um significado diferente. Andar de bicicleta já seria
improvável para um cego. Participar então da maior ultramaratona de Mountain
Bike da América Latina pode parecer impossível. Mas a paixão pelo ciclismo
superou a doença degenerativa que os olhos não conseguiram vencer e para ele o
maior prêmio foi garantido por antecipação: estar ali.
Adalto é o único
ciclista cego a participar da prova que tem um percurso de mais de 600
quilômetros pelas serras da Chapada Diamantina. Para conseguir a façanha, ele
pedala no banco de trás de uma bicicleta dupla, modelo chamado Tandem. Na
frente, o ciclista Cláudio Carraca guia a bike. "As vezes eu digo que eu confio
mais no meu condutor do que a mulher dele", brinca o bem-humorado Adalto, que é
uma das figuras mais populares no acampamento da Brasil Ride. Ele afirma que a
sintonia com Cláudio é das mais afinadas possível.
Outra brincadeira do
ciclista já é conhecida dos mais próximos. "Quando me perguntam se foi difícil,
eu respondo: dá pra fazer de olhos fechados". E esses mesmos olhos "fechados"
não o impedem de ter noção das belas paisagens pelas quais passa durante as
provas em um dos mais conhecidos cenário baianos. "É muito especial, aproveito e
dá pra sentir o lugar que estou, meu parceiro ajuda muito nisso
também".
Dupla da África do Sul também usa modelo Tandem
O fato de não enxergar a trilha pode se tornar uma
vantagem em muitos momentos. "Meu psicológico é mais forte, como não estou vendo
se o que vem pela frente é mais difícil, não me abalo e continuo colocando força
no pedal", contou o brasiliense que já participou do Parapanamericano da
Colômbia e de um Mundial, na Dinamarca.
A perda total da visão aconteceu em
2007. A partir daí Adalto passou a integrar o "DV (Deficientes Visuais) na
Trilha", grupo de Brasília, cidade onde vive, formado com a intenção de que
atletas cegos não abandonem o ciclismo. Além da tandem de Adalto e Cláudio,
outra bicicleta do mesmo modelo é usada por uma dupla mista da África do Sul,
mas nesta nenhum dos ciclistas possui deficiência visual.
*Repórter enviado a convite da organização da
Brasil Ride
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