Correio Braziliense - Caderno de Esportes





Brasília, segunda-feira, 02 de novembro de 2009

Com inúmeras vias propícias para o esporte, o ciclismo se mostra um exercício possível de ser praticado em qualquer área de Brasília
Gustavo Ribeiro
Fotos: Carlos Silva/Esp. CB/ D.A Press

Rebas do Cerrado em trilha no Jardim Botânico: auxílio para os menos experientes
O plano urbanístico de Brasília, concebido por Lucio Costa, priorizava o transporte automobilístico. Vias largas, muitas retas e a ausência de veículos férreos. De forma involuntária acabou, também, por facilitar a locomoção em duas rodas. “Não há local em que não se possa andar de bicicleta”, garante o militar Lucinei de Castro, carinhosamente conhecido como Gaúcho, 41 anos, e que aposentou o carro e a moto na hora de ir ao serviço. Diariamente, ele pedala pelo menos 70km. “Acordo por volta de 5h. São duas horas de atividade, todo dia em uma rota diferente. Depois, às 8h, vou trabalhar, no Setor Militar Urbano”, comenta. Para ele, as “magrelas” são o melhor meio de transporte possível. “Economizo muito, não sofro
tanto com os congestionamentos e, de quebra, ainda consigo manter o condicionamento físico. Academia para quê?”, brinca Castro. Apesar de todas as vantagens da bicicleta, há também os pontos negativos. Um deles — talvez o principal — seja quanto à segurança dos praticantes.
Sem a proteção de uma carroceria, muitos ciclistas são alvos de assaltantes. “Por isso, é preciso escolher bem os horários e os locais em que você vai pedalar. O ideal é percorrer o trajeto antes de carro, até mesmo para saber das condições de trânsito”, alerta Gaúcho.
Outro problema é a relação conflituosa com os motoristas dos automóveis. Muitos ainda não respeitam o ciclista, na crença equivocada de que eles não têm o direito de transitar pelas estradas e avenidas. É verdade também que muitos não fazem a sua parte. “É preciso saber sobre o Código de Trânsito (1)para se resguardar de um possível acidente”, comenta Ronaldo Alves, presidente do grupo Rodas da Paz, na luta por ações do governo que estimulem o uso das bicicletas.
Promessas
Uma das principais brigas capitaneadas pelo grupo é a construção de mais ciclovias ao longo do DF. Dos 600km prometidos para 2010, a previsão é a de que apenas 200km sejam finalizados. No momento, os locais de trânsito exclusivos das bicicletas se resumem a algumas cidades-satélites e são criticados por praticantes, por não ligarem as regiões administrativas ao Plano Piloto.

Obrigações
O chefe de fiscalização do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), Silvain Fonseca, comenta que os ciclistas também são passíveis de serem multados. “Andar em calçadas ou locais inapropriados é uma infração média, que prevê um pagamento de R$ 85. O problema é que a fiscalização do uso de veículos de propulsão humana fica a cargo do Poder Executivo, e o Detran não tem ingerência sobre a questão”, comenta. As bicicletas devem estar sempre no mesmo sentido da via, no acostamento ou o mais à direita possível. Em contrapartida, os carros devem manter uma distância lateral mínima de 1,5m.

"Economizo muito, não sofro tanto com os congestionamentos e, de quebra, ainda consigo manter o condicionamento físico. Academia para quê?”
Lucinei de Castro, Ciclista

"São avaliados vários critérios, como riscos de acidentes ou de assaltos, se há áreas livres (sem trânsito), se há facilidade em sair da rota em caso de emergência”
Márcio Bittencourt, coordenador do Rebas do Cerrado

Passos do ciclista iniciante
1. Escolher a bicicleta ideal
Antes de comprar qualquer modelo, deve-se levar em consideração altura e peso do dono
2. Aprender a andar
Ao contrário da crença comum, não é tão fácil quanto parece. Para ficar em meio aos carros, é preciso segurança
3. Conhecer a legislação de trânsito
É fundamental conhecer suas obrigações para não se arriscar
4. Aprender os sinais que o ciclista deve dar aos motoristas
Mesmo que o motorista não saiba o que cada sinal quer dizer, os movimentos vão chamar a atenção dele e diminuir os riscos de acidentes
5. Equipar a bicicleta
Bomba de ar, chave de corrente e material de manutenção são fundamentais
6. Comprar itens de segurança
Capacetes e luvas são fundamentais.
7. Escolher a roupa certa
É essencial usar camisa e short coloridos. Deve-se estar o mais visível possível.
8. Selecionar a rota
O ideal é fazer um reconhecimento antes, para não se surpreender na hora de pedalar
9. Fazer um check-up
Como toda atividade física, o ciclismo exige muito do corpo. É preciso estar preparado para o gasto de energia.

Eles estão em busca de aventura
Quem prefere as trilhas ao conforto do asfalto urbano vai encontrar no Rebas do Cerrado (1)sua tribo ideal. O grupo, formado em 2003, é voltado aos ciclistas iniciantes e se dedica a descobrir e percorrer caminhos diferentes. Os encontros acontecem todos os domingos de manhã. O coordenador, Márcio Bittencourt, explica que, independentemente do ritmo, qualquer interessado receberá assistência dos mais experientes. “A gente se divide em vários pelotões. Na frente, vão os mais rápidos, que querem cumprir o percurso no menor tempo possível. No meio, os já iniciados, mas que andam em um ritmo mais tranquilo.
E, lá atrás, vão alguns guias com os novatos, para que eles não precisem imprimir uma velocidade acima do que suportam.”
As trilhas são escolhidas por uma comissão, formada pelos pedaleiros mais experientes. “São avaliados vários critérios, como riscos de acidentes ou de assaltos, se há áreas livres (sem o incômodo do trânsito), se há facilidade em sair da rota em caso de emergência”, comenta Bittencourt. Depois de catalogadas, as trilhas são classificadas quanto à dificuldade, em fácil, média e difícil. Cada nível com três subdivisões.
Ontem, o grupo percorreu uma trilha no Jardim Botânico, ideal para iniciantes. “É nível Fácil 1. Quem começa não deve encarar um desafio acima do próprio nível de preparo”, comenta.
Antes de partirem para as pedaladas, o grupo se reúne para uma preleção: recomendações básicas. “São importantes, principalmente, nos circuitos mais difíceis”, comenta o coordenador. Aos interessados, Bittencourt faz o convite para entrarem no site do grupo (www.rebasdocerrado.com.br). “Todo domingo, contamos com a participação de cerca de 100 pessoas. Quanto mais, melhor!”

À margem
O Rebas do Cerrado foi criado por patinadores. Para estrear no pedal, procuraram, inicialmente, um grupo mais tarimbado. Foram recusados por contarem apenas com equipamentos amadores. O nome rebas vem de uma expressão paulista que significa “à margem, o resto”.





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